sexta-feira, 18 de abril de 2025

Pinóquio – considerações literárias sobre livro e telas Por Simone R André

 

Pinóquio – considerações literárias sobre livro e telas

Por Simone R André

 

Hoje, em 2025, exatos dez anos depois, decidi compartilhar o artigo escrito para a especialização Libro-pantalla-libro: adaptación y transfiguración en la LIJ, pela UAB, de Barcelona, em homenagem a uma mestra da qual eu fui leitora desde as primeiras descobertas da escrita – com um livro chamado “Uma ideia toda azul”[i], a autora que fora a mediadora da leitura do texto Pinocchio neste curso e também tradutora do mesmo livro: Marina Colasanti[1], falecida em 28 de Janeiro deste ano.

Texto foi escrito como trabalho de estudo sobre as adaptações para o cinema da obra de Carlo Collodi, “As aventuras de Pinoquio””, tradução de Marina Colasanti[ii] e os filmes adaptados com atuação e direção de Roberto Begnini “pinóquio”, de 2002  e  a versão da Disney em animação de 1940.

Antes de iniciar a comparação é importante frisar que inquietação das  comparações entre as adaptações e linguagens que são há muito estudadas. Refletindo a respeito das diferenças entra as linguagens cinema e literatura  me lembrei de uma experiência muito difícil com a história da Pequena Sereia. Ao contar a versão original de Andersen em um livraria no Rio de Janeiro, Brasil, no início dos anos 2000, as crianças, em sua grande maioria meninas entre 3 e 7 anos que desejavam ouvir a versão da Disney e não aceitaram o fato da sereia não ter o nome de Ariel e tão pouco dela não se casar com o príncipe. Para além do meu desconforto, ou  desespero, ficou como um grande “grilo” a me questionar sobre a versão adocicada: qual é o problema? O que se perde? 

            Logo percebo a mudança entre as versões dos filmes em relação com o livro. Se, como nos diz Naranjo[2]: “o tempo no cinema é o presente e na literatura é o passado”; em ambos os filmes, desde o começo enquanto passam os créditos, somos conduzidos a este outro lugar, do presente na cena.        No filme de Benigni, as imagens iniciais são estáticas, de plano aberto nos apresentam o vilarejo, como fotos, nos levam para este outro tempo e lugar. Então o “era uma vez” nos é oferecido coma chegada da fada em uma carruagem puxada por muitos camundongos. Localizamo-nos assim nos contos de fadas. Nesta cena inicial, a fada discorre sobre o assunto “tempo”, o que nos dá margens para compreender a respeito da própria linguagem utilizada no cinema, como uma metanarrativa. Como no texto de Naranjo nos diz : “El lector reflexiona el hecho. El espectador ló vive.”  O discurso da fada me remeteu ao inicio do livro “Era uma vez... (..) não crianças.. era uma vez um pedaço de madeira”.

            Assim que termina essa cena, a câmera segue o trajeto da borboleta e passa a nos apresentar o cotidiano da cidade a partir de seu ponto de vista. E é a borboleta quem dá inicio à ação, pousando (tocando) em um pedaço de madeira que ganha vida e sai aprontando mil estripulias.

            Destaco um detalhe nesse início: a carruagem para exatamente em frente a uma fonte com a imagem do Pinóquio, ao que me pareceu uma menção à obra original, e existe uma realmente em homenagem ao personagem na Itália. Pude pensar no conceito de adaptação cunhado por  Sotomayor Saez[3] esta cena como uma “citação” à obra de Colodi nos aproxima do que parece ser a tentativa da versão de Benigni: maior fidelidade à obra original além  de incluir a referência do local onde se tem a estátua da obra.

            A animação da Disney, inicia com a conhecida canção que ouvimos enquanto passam os créditos e já é parte da cena. É o grilo falante quem nos apresenta a história, e de início, como se fosse um musical, sob a luz do holofote, como os filmes musicais daquela década. O mesmo  holofote que ilumina o título do livro, assim  localizando-nos no tempo em que fora criada a animação, 1940. Ao aproximar da câmera, fechando o foco no círculo de luz, percebemos que o grilo está em trajes de gala e fala diretamente com o espectador.

            Sua fala parece nos apontar uma moral de que encontraremos no filme:  “é possível  realizar os seu sonhos”. Em seguida, abre-se o foco para o livro  inteiro “Pinocchio”, localizado em cima da mesa  e a luz já não é mais  a mesma, agora estamos à luz  de velas e  o grilo começa a ler o livro. Percebo na mudança de iluminação a orientação para o inicio do “era uma vez”.

Nessa sequência de início da obra de Disney, é possível recuperar a relação que se tem com a circulação e acesso ou a transmissão desse filme a ponto de fazer com que a história, não essa escrita, mas a adaptada, seja mais conhecida e tida por original do que a escrita, claro que o livro, como veículo de comunicação ainda esbarra na questão da linguagem da escrita, de saber a língua especifica,  já ou o filme em animação a relação se dá mais com símbolos e significados, e além de ser mais acessível a compreensão quando se trata de comunicação de massa ainda que seja um filme de cinema, ou seja, depende de distribuição pelas salas, o que hoje em dia já se modificou com os streamings. Os avanços tecnológicos possibilitaram que ele fosse acessível a um público muito maior do que o que frequentava o cinema na década em que fora lançado. Temos então uma ampliação de visualizações  ao chegar a televisão, quando a transmissão de animação passou por décadas e gerações, sem contar os inúmeros produtos que os acompanharam, que vão desde os livros e publicações pequenas e mais acessíveis pela condição de produção, até o parque temático que os acompanhava, extensão do conglomerado Disney, sobre isso discutiremos em outro tipo de analise e reflexão. 

            Agora, as comparações dos filmes, na sequência seguirá a passagem para outro tempo. É interessante perceber que ao mostrar os detalhes da imagem narrada  pelo próprio grilo, conforme ele mesmo diz “como  um quadro” somos levados pela câmera a entrar no filme “Pinocchio”. A narrativa cinematográfica inicia-se com o ponto de vista (perspectiva) do próprio grilo e com seu olhar nos aproximamos da casa de Gepeto aos pulos.

            Quando a câmera substitui o olhar-do-personagem pelo olhar-de-narrador temos a imagem do grilo já vestido em farrapos. Após sua entrada no ambiente, a câmera nos dá uma panorâmica do lugar com uma infinidade de brinquedos para crianças. Por este início e pelo figurino do personagem, percebo que o grilo representará a pobreza, presente na obra de Colodi, em oposição ao ambiente da animação que é rico em conforto. E a luz, em geral, nos é apresentada sempre mais clara no centro e escura nas laterais da tela, intensificando a sensação de um ambiente acolhedor, também característico de uma mudança histórica que viabilizou o cinema:  a iluminação.

            A contradição entre a adaptação e a obra originaria e a versão em animação é grande. Enquanto na obra de Colodi a casa de Gepeto é pobre, descreve-se no livro que o fogão, por exemplo, é uma pintura na parede,  e Pinóquio só ganhará roupas no 8º capítulo como condição para ir à escola, enquanto que na versão cinematográfica da Disney a casa é repleta de brinquedos, Pinóquio já está vestido e o único elemento de pobreza presente é a roupa do grilo. O conforto e o aconchego são ressaltados em todos os primeiros 20 minutos do filme. As cores da casa, a lareira fazem do espaço um Lar, e o carinho são entre os personagens, inclusive  aqueles que não fazem parte da edição literária de Colodi (o gato Fígaro e  a peixinha Cléo), nos apresentam informações através do diálogo que tem com Gepeto.

             Interessante reparar em algumas das pequenas narrativas paralelas que ocorrem no filme da Disney, uma delas é a dança entre Gepeto e a marionete Pinóquio, o grilo está por baixo da estrutura mecânica da caixinha de música, inadequado à aquele espaço e ele é “ferido” e expulso, o que é possível remeter à diferença entre as artes, escrita e fílmica, ou especificamente uma menção à época instustrial.

            O grilo falante tem uma importância grande em toda a animação da Disney, desde dar inicio à obra, até ser a consciência da marionete, a reflexão é que se o Grilo falante está ocupando o lugar de voz narradora, ou de mais proximidade com o texto, posso fazer a analogia entre a passagem que ocorre a partir daquela época, 1940 em diante, entre o escrito e o visual, ou de como o  escrito é ou era a equivalência da consciência, ao menos para os que produziram a animação.

Da mesma forma outra importância diferencia a adaptação do livro na animação: a fada. O desejo de que o boneco seja um menino é primeiramente apresentado por Gepeto na animação. E é à fada azul, que vem como uma estrela cadente, para a qual Gepeto fez o pedido. É a fada quem dá vida à marionete, também ela é quem nomeia o grilo falante como a consciência do Pinóquio (e neste momento o grilo deixa de ter as roupas esfarrapadas retoma as vestes de gala iniciadas do filme). Essas mudanças parecem significativas em termos comparativos entre o hipotexto e o hipertexto, pensando na adaptação como uma escolha repleta de significado. Dentre as possibilidades de sentidos encontro uma que diz respeito à mudança de perspectiva cultural e histórica. Recupero a leitura de Nobert Elias sobre a elaboração da consciência como processo civilizatório e de autocoerção.

            Elias discute as formas diferenciadas de coerção como alterações dos comportamentos aceitáveis. Por meio das mudanças nos sentimentos de vergonha  e embaraço, do controle  dos impulsos, ocorridos  num processo  de longa duração  histórica, alteram  também  os padrões  do que  uma sociedade  exige  e proíbe  como regra  de sociabilidade. Para o autor “No avanço do processo civilização, tem-se que mecanismos  de autocoerção  tornam-se mais poderosos  que coerções externas,  de forma abrangente e  homogênea . (ELIAS, 1997)[4]

            Nesta referência de mudanças históricas, podemos perceber personagem de Pinóquio como representante desse processo. A meritocracia advinda da ascensão burguesa, principalmente a classe média – ou a ascensão dessa como participante do social, dependente da força do trabalho para viver,  concentrou-se em  um código de comportamento associado à virtude  e à moralidade e não sobre  um código  de honra da aristocracia, talvez aí esteja o cerne de um dos conceitos de Nobert Elias que é o de “fundo social de conhecimento”, e que também pode ser reconhecido como fonte ou raiz das “disciplinas” da escola, sendo a escola provedora desse fundo social, ou lugar para a formação desse social, talvez.

Nessa passagem ou surgimento da classe média, terminadas as formas absolutistas de controle, é o auto controle que se torna absoluto – as injúrias e as proibições sociais tornam-se cada vez mais parte do ser, de um superego estritamente regulado. Acredito que podemos encontrar eco na versão da Disney e na importância dada ao grilo como voz da consciência que a todo momento será questionada ou até negada pela marionete, como se coubesse ao ser e não mais as relações sociais que o ser  vivencia o autocontrole. Algumas conexões podemos fazer entre esse tempo, de 1940 e os dias de hoje com as mudanças tecnológicas e as mídias e seus acessos aos dados que produzimos, às consequentes leituras e significações que são feitas a partir dos dados que comportam encaixotam e normatizam o ser.

            Já na versão de Colodi, o grilo é morto  logo no  4º capítulo. Neste capítulo,  o grilo diz a  emblemática frase: “ Se você não gosta de ir à escola, porque não aprende pelo menos  uma profissão que dê para ganhar  honestamente um pedaço de pão?” e na continuidade da conversa conclui sobre a profissão escolhida por Pinóquio de ser vagabundo: “todos que escolheram essa profissão acabaram quase sempre no hospital ou  na prisão”. Podemos compreender que no hipotexto, Colodi apresenta os mecanismos de coerção externa, alguma equivalência conforme houvera mudança cultural e civilizatória entre os anos de 1888 e 1940. Assim, o mecanismo de coerção é, em ambas versões – do texto e do filme - transferido para o grilo, como consciência, ou seja como forma de coerção  interna conforme nos apresenta Elias, ou externa.

            Se no hipotexto são as aventuras que levarão o personagem  e à nós leitores à consciência dos valores morais e éticos, na versão da Disney a trajetória  da personagem será apresentada pelo diálogo com a consciência personificada.       

            Podemos portanto refletir a respeito da mudança de perspectiva proposta pelo filme da Disney, não como uma falta de cuidado  com a versão original, mas sim como uma releitura, que sofre alterações com uma adequação  ao contexto cultural. Se na época de Colodi a questão estava na relação da criança com a educação, formulava-se ainda a obrigatoriedade da formação escolar para todos, então em  1940, a questão que nos aproxima é a da conscientização, ou da elaboração de um comum saber .

            Na versão cinematográfica, além das mudanças dadas pelo suporte tela, se faz presente a transformação em que tanto incluem o que SOTOMAYOR SOEZ destaca:  “ ligada al sistema cultural y  literario de una  época concreta; y es precisamente Le distanciamiento  de ese sistema y con ello, la  dificultad de comprensión  para lectores  no muy  cualificados  lo que  induce  a la reescritura.” (p. 228).

Encontro no texto de SOTOMAYOR SAEZ ressonância a um pensamento sobre o quanto as muitas versões, adaptações, reescrituras ou diálogos com as obras são também formas as mediações que possibilitam ampliar os sentidos das obras recuperando saberes socialmente compartilháveis. Portanto de qualificação do olhar e compreensão do leitor-escritor ou leitor-adaptador. Seja com viés ideológico, cultural, seja com o objetivo voltado ao receptor da obra, tais reescrituras traduzem ou representam um diálogo da obra com seu tempo, com seus leitores. Autora diz:

“gran parte de la literatura  que circula  em nuestra  sociedade, y  tambien  em tempos  passados, no se escribe  sino que se reescribe.”( p. 221)

Perceber as adaptações como um processo cultural, é compreender a responsabilidades dos profissionais de leitura na divulgação e no conhecimento destas versões. Os Cânones como parte do acervo social, quase sempre, são lidas por esses profissionais. Penso que fica mais difícil falarmos em originalidade ou em um hipotexto único, pois o que garante a permanência de tais obras  é o fato de que são lidas  em profusão suas  versões e adaptações.

Reflito o quanto é necessário estabelecermos qual será o hipotexto para se chegar a uma análise das adaptações. Um exemplo é o que ocorre com versões e adaptações de livros para crianças como o clássico infantil “As Aventuras de Pinóquio”. As inúmeras adaptações classificáveis como versões, ou digest  utilizam como hipotexto a versão da Disney e não  a obra de Collodi.

No primeiro capitulo da obra literária, a madeira fala com o Mestre Cereja; na animação da Disney a madeira parece ter sido substituída pelo grilo. São muitas as mudanças culturais ou temporais presentes em uma adaptação. É enriquecedor conhecer a versão mais antiga, mas nem sempre temos acesso a ela, por outro lado a busca por um purismo descarta as transformações e a compreensão do caminho de mudança realizados.  Isso nos lembra, que assim como o personagem nasce da madeira, são os elementos que fazem a materialização em algo que tem utilidade. A mesa, feita de madeira, o chumbo do ferro da bicicleta e tantos outros, a relação com a utilidade e com a formação parece ser o mote da história de Pinóquio seja ela escrita ou em filme.

 

Conforme exemplo citado pela autora SOTTOMAYOR SAEZ, na história da Bela adormecida, o que ficou socialmente conhecido foi a compilação dos Grimm como hipotexto, já dispensada a versão mais erotizada de Perrault. No caso das gerações que cresceram com os filmes da Disney, como a minha, acabamos considerando (inconscientemente) a versão Disney como “original” ou como hipotexto.    

Essa questão é tão presente que em outras versões escritas adaptadas da história, mais próximas dos Digest, mas se aproximam mais da versão da Disney. Como exemplo, temos o primeiro capítulo de muitas obras adaptadas  pesquisadas, não há menção ao Mestre Cereja, ao invés disso, são enfatizadas a solidão do Gepeto como motivação para criar a marionete.

Enquanto na versão de Collodi é a necessidade de ganhar dinheiro que leva Gepeto a fabricar um boneco, o que poderia tirá-lo da miséria. Em outras  versões menos comprometidas com o hipotexto do livro, é a vontade de ter um filho que gera à aparição da Fada.

 Sabendo que: 

“La riqueza lingüística, la densidad significativa  de un personaje o la complejidad  de sentimientos y relaciones que una obra clásica puede llegar  a contener resulta difícil de apreciar en un tiempo  caracterizado por la fragmentación del conocimiento, la simplicidad de los mensajes y la relativización de los  valores.” ( SOTOMAYOR SAÈZ, 2009, p. 228)

Compreendo a necessidade de mercado que, muitas vezes, produzem adaptações centradas na versão da Disney, pois é o filme que leva crianças e jovens à leitura e não o contrário. Mas, o que deixamos para trás, quando não a lemos na original é a profundidade de uma obra como a de Collodi? Também cabe uma reflexão a respeito das modificações realizadas pela obra cinematográfica da Disney, se são uma versão livre, mas na qual estão presentes as mudanças sociais da época.

Ao ler a versão original, aqui neste curso, me surpreendi, pois a minha memória da história de Pinóquio estava fundamentada na versão Disney.  Também me surpreendi ao perceber que não apenas eu, mas os demais aportes e versões, sejam impressas ou ebooks, principalmente as versões de aplicativos disponibilizadas gratuitamente na internet, encontram-se igualmente baseadas no filme de 1940. Até 2015, data da escrita desse estudo existia um único aplicativo sendo fiel ao hipotexto, à Collodi, é o da “Elástico books to play”..       

Analisando este e-book, posso dizer que é uma adaptação onde vernos um resumo da obra suprimindo algumas partes, mas mantendo a estrutura e o essencial do hipotexto, baseado no livro. Interessante é fazer, posteriormente uma discussão a respeito  das imagens as quais tem interação com o leitor.

O  uso que fazemos das obras, nós leitores ou espectadores, os significados que damos em compreensões leitoras que temos em cada momento, ou em cada experiencia de vida,  ativação de sentidos ou , como nos diz ELIAS é engajamento ou o distanciamento que irá compor significados das narrativas vistas , realidades diferentes fazendo sentidos para muitos leitores em diferentes contextos mantem a obra sendo reelaborada por veículos em novos contextos.

 

 

 

Também me surpreendi  com  a leitura do livro. Havia visto o filme da Disney  e talvez tenha lido alguma adaptação da obra bem resumida, mas nunca ela por completo. Me lembrava  apenas de algumas cenas. E ler me  levou a refletir a respeito do personagem que vive muito além da  questão da mentira e do nariz que cresce . Questionei-me  sobre a forma  com a qual  compreendemos  e percebemos a infância.

            Uma personagem contraditória que é ao mesmo tempo travesso e insolente  mas com características de extrema bondade e compaixão, sempre envolvido pela inocência. Uma marionete que deseja ser uma criança? Isso é muito significativo! Quando, no real,  uma criança deixa de ser marionete?  Quando deixa de ser levada pelos adultos e passa a ser efetivamente criança?

         Pinóquio é  um personagem rico em contradições, o que me levou a formar a ideia  de ser este um livro sobre a formação da humanidade - humanidade no sentido de humanização - todos os conflitos e  contradições que se fazem presentes em nosso mundo  que constituem  nossa humanidade. Será que a humanização é compreendida por virtudes alcançadas? Será que essa pode a ser percebida como a  iniciação da criança no espaço humanizado?

            Em sua trajetória, Pinóquio é enquadrado em diferentes personagens,  passa por diversas “máscaras sociais” até  constituir-se menino.  Desde o encontro com outras marionetes, como estudante, como ladrão, como cão de guarda, como assassino, porém vai se desfazendo de todas as formas em busca de ser o menino, perdendo a inocência em alguns aspectos e ganhando reflexões morais em outros.      

Sim, em diversos momentos Pinóquio é levado à proximidade da morte.

Antes de seu nascimento poderia ter sido morto dizimado pelo fogo e em outros momentos também o personagem se encontrou em grandes perigos, seja quando quase fora morto enforcado,  capitulo XV, estrangulado na árvore, ou seja no capt. XXVII onde ele quase é morto pelo cão Alidoro. Mas é no capítulo XXVII que ele quase morre frito na frigideira e acaba sendo salvo pelo cão.  Temos na morte a relação entre o julgamento do outro, ou dos outros, em  diferentes contextos e a possibilidade de nós, como leitores ou espectadores opinar sobre essas condições, principalmente quando a obra era escrita em forma de folhetim.

Ao refletir sobre o trecho   "un trozo vulgar, de los que en invierno se echan en los hogares y las chimeneas para encender el fuego y calentar las casas." Fui rever o pedaço de madeira, e me deparei encontrei(excluir) com uma história de objetos - objetos esses que são artesanalmente criados. Neste caso, me pergunto: um objeto pode virar menino? Ou menino pode ser visto como objeto?

Na o livro existe uma diferença entre Gepeto e Mestre Cereja  o primeiro é aquele que tem permissão para a ilusão, para  o lúdico - pois é em sua casa  que se inicia a cena lúdica,  onde o espaço que é  completado com pinturas nas paredes, como um cenário. E é onde caberá uma marionete?  Onde caberá a vida onde é tudo inanimado? E é o mestre Cereja quem dá a madeira falante para Gepeto.

Preenchendo as lacunas, que nós, leitores, preenchemos entre os capítulos: ida  de Pinóquio ao teatro de marionete,  me aproximou das ideias do Bom selvagem  de Russeau, porque  como um conceito de infância que se destaca do que era natural e se passa  a perceber tanto como a inocência,“ o bom” com compaixão, acaba por necessitar de algum tipo de educação para que se ponha esta “marionete” na vida social, na vida da cidade,  para que aprenda e não ser mais selvagem. O selvagem no caso seria a madeira antes de ser esculpida.

Percebi  que em  todos os momentos de perigo do Pinóquio, há estruturas  que se repetem: o castigo,  o perdão, em seguida uma ação dos cuidadores, Gepeto ou a Fada, cuidando e confortando, acolhendo. 

Certamente, a ilustração de Innocenti me levou a refletir sobre a nudez do personagem no início da história. Ecomo a versão da animação detem o meu imaginário imagético, quanto é difícil imaginar outro personagem diferente do da versão da Disney. Ao buscar outras  ilustrações igualmente me dou conta do quanto  que minha leitura esteve impregnada do Pinóquio da Disney. Perceber a marionete como  uma sombra, certamente  me trouxe outros sentidos para a história. 

Filmes:

PINOQUIO: Walt Disney Productions, 1940.

PINNOCHIO. BENIGNI, Roberto. Pinnochio. Miramax Home Entertainment, 2002.

PINNOCHIO 3000.  ROBICHAUD, Daniel.Filmax,2004

 

Autora:

ANDRE, SIMONE R. B. O QUE  O que narram os narradores: memórias, histórias e práticas. Total de folhas. Tipo (Dissertação, Educação: Processos Formativos e Desigualdades Sociais. (Mestrado em Educação), UERJ- FFP ( Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores) São Gonçalo, 2012.

 



[1]

[2] NARANJO, Lisandro. “Cine y literature: dos en uno no caben”. Hojas de lectura abril 2001: 11-14.

 

[3] SAÈZ, María Victoria Sotomayor. “Literatura, sociedad, educación, las adaptaciones literarias”.  Revista de Educación No. Extraordinario 2005: 217-238.

 

[4] ELIAS, Norbert.  O Processo Civilizador. Uma história dos costumes. Tradução Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. v.1. 

 



[i] COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo, Global, 2005

 

[ii][ii] Collodi, C. As aventuras de Pinoquio. Tradução marina Colasanti, Companhia das letrinhas. São Paulo:2002.

 

 


 

 

 

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Todo trabalho não é social? parte 1 e 2

Todo trabalho não é social? Texto em 5  partes:

1.    Trabalho e crescimento = relatividade

Sou de uma geração em que a compreensão  linear do tempo obrigava a todos querem sempre mais, uma certa lei da evolução que dizia que temos que melhorar sempre. Tá, tudo bem, mas se o melhorar é sinônimo de avançar, Cabe a pergunta: o que é avançar? Conseguir um posto mais visado no mercado: isso é avançar ou melhorar? Alcançar um alto cargo equivale a avançar? Crescer na carreira significa sempre ocupar um cargo mais alto?

Essas perguntas são capazes de fazer uma professora ficar sem dormir, por dias. Pois que as crianças, em torno de 200 com quem uma professora hoje tem contato quase diário, saíram da escola pensando assim. E encontrarão na frente, ali adiante, um mercado. Um mercado de trabalho. 

Mas como é ou como deveria ser um mercado de trabalho?

    2.  Trabalho e mercado = lotação esgotada

O que é o mercado de trabalho? Primeiro faremos a pergunta: o que é mercado? Aquele lugar onde estão expostas as mercadorias de diversas marcas diferentes as quais você deverá (supostamente) escolher uma e comprar. Mas normalmente a sua escolha vai mais pelo preço, e não pelo valor. Dificilmente você escolhe pelos ingredientes ou pelos produtos utilizados para aquele resultado. Certo? Talvez isso esteja mudando.

Também como professora  faço parte de uma geração inflada, em que os gráficos apontavam sempre que teríamos problemas, que não haveria espaço e trabalho para todos no mercado. Qual seria a solução? A solução é a competição. Mas para competir num mercado, seremos escolhidos provavelmente não pelo valor, mas sim pelo preço. 

Assim também é a tal lei “natural” de Newton, a qual diz que precisamos eliminar os mais fracos, isso tomado como uma característica da nossa natureza. Lobato mostrou bem isso, é só ler “A reforma da natureza” e outros textos dele também,  vale a pena. 

Nesse cenário o conflito  mesmo não é apenas a forma com a qual  resolvemos o problema, o desemprego. Trata-se de como o termo trabalho é compreendido hoje é como está sendo modificado. Tudo bem, sabemos que assim como a língua é viva, o trabalho também se modifica. Se a língua se modifica no uso que fazemos dela, também o mesmo ocorre no trabalho.  

Mas o que é o trabalho? E qual é o uso que fazemos dele?

   Vejamos no outro post.


Todo trabalho não é social? Parte 3 e 4

     3. Mas o que é trabalho?

O trabalho com compreendemos tem a ver com esse tal mercado, um local onde suas habilidades e conhecimentos ficam a disposição para os empregadores usufruírem, e pagarem por isso.

Qualquer que seja o empregador, seja rico, classe média,  sempre estará atrás de algum serviço a ser prestado para servir a sociedade. Sim a redundância aqui foi proposital, “um serviço para servir” a alguém.

Portanto, o trabalho, seja ele qual for, é sempre social. Estará sempre a serviço de alguém.  Desafio a encontrar um trabalho que não tenha como característica servir alguém. Difícil. Eu não encontrei nenhum até hoje. Em qualquer profissão que pense, sempre estamos servindo, padaria, vestimentas, limpeza, ensino, tudo é sempre com o intuito de servir ou melhorar a vida do outro, seja o conhecido ou um desconhecido.

Vamos lá, se pensarmos num trabalho com a tecnologia, o TI – tecnologia da Informação, mesmo lidando com máquinas e linguagens de máquinas, sistemas e computadores o trabalho terá sempre como destino final facilitar a vida de alguém. A criação de serviços online, bancos, compras, tudo o que não vemos, tudo o que a máquina faz, tem como finalidade nós, o nosso bem estar. 

Se vivêssemos no tempo do escambo, da troca, poderia ser diferente. Mas será que não vivemos ainda neste tipo de escambo com o dinheiro? Talvez para isso sirva o dinheiro, para que possamos servir também a desconhecidos. Para que o escambo e a troca de serviços seja comum também entre estados diferentes, entre países até.   

Mas o que me pergunto é: porque todo o trabalho hoje em dia não é mais considerado como social?


  4.   Por que todo o trabalho hoje não é considerado mais social?

Por exemplo: o trabalho social agora é compreendido como penalidade nos julgamentos da justiça oficial. Uma pessoa, quando considerada culpada por cometer um crime, ela cumpre uma pena, recebe uma punição. Mas me questiono: como uma diminuição de pena pode equivaler a prestação de um serviço social? Ou seja, como um tempo de prisão, que equivale a um castigo, pode ser substituído por um trabalho social? Se pensarmos nos políticos, quando têm a sua pena reduzida em troca de trabalhos sociais a conta não fecha. Pois não é o trabalho dos políticos melhorar e criar serviços para o bem estar social, o bem da sociedade?

Sempre me intrigou o nome trabalho social, como se todo o trabalho não fosse já social. Até aí uma reflexão sobre o sentido que damos ao termo, normal. 
Mas, a questão principal é: Todo o trabalho não é social?
 Existe algum que não seja em prol do outro, para o bem do outro? Os presos estão privados também do direito ao trabalho, então o acesso ao mercado de trabalho é um valor para esta sociedade? Se é um valor, então estar empregado é importante, no emprego você fará trabalho em prol de um outro. Logo, você fará um trabalho que é em prol da sociedade, um trabalho social. Então qual é a relação com o trabalho que estabelecemos hoje, para que o resultado de uma ação contra a lei, como punição, seja um trabalho social? 





Todo trabalho não é social? parte 5

5. O valor do trabalho 

O que vemos é uma exacerbação do valor do trabalho, do “ter um trabalho”, e uma diminuição do valor do trabalho em si, ou do trabalho como uma função social. A lei da competição preconiza isso. Nas relações entre o produto e o capital, também é assim. Quanto mais se tem disponível, menos valor se pode cobrar. Até faz algum tipo de coerência, se  pensarmos em produtos, mas ao pensarmos  em pessoas, fica bastante absurdo.  Indico a leitura do livro de Carolina de Jesus, “O quarto de despejo”para essa reflexão,.

Outro tipo de trabalho é o trabalho escravo, o que ainda é visto aqui no Brasil. Consta o caso da uma fazenda no ano 2000, no Pará, que foi denunciada e julgada por uma Corte interamericana de Direitos Humanos. Assim como o trabalho escravo, outras pistas de como damos valor ao trabalho, ou de como valoramos o trabalho hoje. De como colocamos um valor quando damos um preço para os trabalhos de hoje. Indico também um  filme antigo, 1,99. Da época em que haviam lojas que cobravam o valor de R$1,99 para quase tudo que havia para vender. 

       Sem esgotar, sigo perguntando: quanto vale o seu trabalho? Ou quanto deveria valer? Seria um exercício pensar, não em termos financeiros. Se pensássemos nos valores de forma diferente do mercado de trabalho. Como você faria essa valoração? Como você etiquetaria cada uma das funções da sociedade, do que precisamos hoje para viver? Do que você precisa para viver, de que forma você  etiquetaria os preços destas funções da sociedade. 





quinta-feira, 11 de maio de 2017

PEDRO II: por uma Rés Pública 1

Por uma Res-pública
Por uma releitura da proclamação da república, ou da Res-pública em 2 capítulos, por enquanto.

1.       Pedro II   e a Republica    

O mundo, ou melhor, o Brasil está repleto de nomes de Ruas, parques ou locais públicos homenageando algum personagem histórico.  Os acontecimentos dos últimos meses, se vistos por esse lado, enfatizam uma outra perspectiva que me faz pensar além dos nomes históricos das instituições. Num desencadear de pensamentos faço uma releitura. Não uma releitura do descobrimento, como fizeram os modernistas, mas sim numa releitura da proclamação da República do Brasil.

A primeira pergunta que faço é: quando e porque o país deixou de ter o regime de monarquia federativa presidencialista e passou a República? Ao compreender que hoje o cargo político do presidente da república é para o “sempre” da vida, até a morte; penso em como temos semelhanças que continuam ocorrendo desde aquela época da independência. São monárquicos os salários e auxílios de presidentes e ex-presidentes recebidos até a morte de cada um deles. Essa seria uma pergunta que gira em torno da polêmica da aposentadoria, do fundo de pensão etc. Mas, por merecer um estudo mais aprofundado, não me arrisco a abordar mais sobre este assunto.

O segundo ponto é o que faz agora me questionar sobre Pedro II. Com o intuito de reler a proclamação da Republica, inicio as questões por como vemos Pedro II nos dias de hoje. Para se chegar até o mais longínquo do passado, inicio por duas situações do presente, nos muitos nomes de ruas, espaços e monumentos que me fazem retomar um pouco da história dessa personalidade estão: a escola do Rio de Janeiro e a estação de metrô em São Paulo que levam o mesmo nome.

O que posso dizer sobre a figura histórica,  para além do nome de Pedro II é pouco que sei sobre a história passada. Sei que foi imperador ainda em criança, fato que fez muitos questionarem na época sobre a maioridade. Sei que por ter passado grande parte de sua infância se preparando para o império e pelo que instituiu depois, sua reputação fora a de um erudito, um patrocinador do conhecimento. Sei que não conheceu a mãe, que faleceu pouco tempo depois do seu nascimento. Seu pai, ao sair do país e voltar a Portugal, deixou três pessoas encarregadas de tutorá-lo. E enquanto  não atingia a maioridade, o já coroado imperador, era governado - assim como o Brasil - por outra regência que tomava decisões políticas, e  sei também que isto resultou em brigas e rebeliões no país. 
Para que Dom Pedro II assumisse como imperador naquela época foi pensado e discutido sobre a diminuição da maioridade, coincidentemente esta discussão tem sido necessária nos dias de hoje, pretendendo conferir aos menores de idade um outro tipo de autoridade.
 Vemos o quanto à diminuição da maioridade penal é um assunto polêmico neste país, desde o tempo de Dom Pedro II. Quando olho hoje, os jovens alunos que ocuparam escolas em todo país em defesa do ensino público, penso que esta maioridade pode conceder uma autonomia desejável. Porém, a exemplo destes alunos, a idade com a qual Pedro II fora coroado foi, provavelmente, a mesma com a qual estes secundaristas iniciaram a luta em prol do ensino público, mas sei que a juventude não está toda representada nestes exemplos.
 Outras questões aparecem quando o assunto vem à tona, pois outros também são os adolescentes. Continuação no link abaixo:


sexta-feira, 28 de abril de 2017

Valor ou Valores?



Valor ou valores?


Banana is my business. – para ler após assistir ao filme que conta a história de Carmen Miranda
                                                                                                                                    
Valor ou preços?

   Uma das coisas mais comuns hoje em dia e ver e ouvir falar sobre o quanto "um professor deveria ganhar mais, pois é ele quem ensina tudo, até para os que ganham mais". A partir desse saber popular, resolvi destrinchar um pouco do que está envolvido no valor de algo, e para que isso ocorra devemos chegar a um preço, e neste texto, preço não é sinônimo de valor.

Se considerarmos o dinheiro como valor abstrato de algo, talvez possamos compreender essa diferença entre valor e valores de outra forma. Talvez ajude pensar que uma banana pode representar uma moeda,  pois como tudo tem um valor, uma banana poderia ser igual a um real, por exemplo. Cada país, portanto, tem uma moeda e esse dinheiro vale de formas diferentes. Em alguns países é preciso duas bananas para ser equivalente a uma moeda de lá. Até aí é fácil, esdrúxulo até, mas a intenção é se chegar no preço. Para se criar um preço, um valor para algo, muitos valores estão envolvidos.

 Quem fez, quem fabrica, quanto se gasta em material estes são alguns valores que devem ser somados para se chegar ao preço final. Porém, se cada um precisa colocar um preço pelo seu trabalho, teremos uma confusão de valores. Quanto deve valer o seu trabalho? E quanto realmente vale nesse mercado? Qual deve ser o parâmetro para se chegar ao valor de seu trabalho?

    Após esse valor de início temos que acrescentar o transporte, a  locomoção. Aí vem outra pergunta: quanto se gasta pra que o produto chegue até as mãos do consumidor? Transporte, (avião, caminhão, bicicleta), o depósito (frigorífico, gelo, armazém), e além disso o "como se paga". Porque existe um valor que se paga no ato a compra, a forma com a qual utilizamos o dinheiro: cartão de crédito, cartão de débito, ou com o antigo cheque. Tudo isso é somado ao quanto deve custar o produto. 

      Se a partir dessas três despesas acima listadas (mão de obra, material e transporte ou armazenamento) acertarmos um valor, teremos um preço. Um valor ajustado entre pessoas de uma mesma cidade ou um mesmo país, que se utiliza de uma mesma moeda para medir os valores. Podemos dizer que o: “– Tá pá quanto?” final está definido. Porém, ajustado o preço que incluiu todas as despesas citadas teremos um valor justificável; o que não significa ser justo. 

 O preço de algum produto pode ser justificável, mas não ser justo? Sim, se compreendermos justificável pelo tanto de gente por onde esse o produto passou, por onde esse objeto andou, é compreensível. Porém, pode não ser justo para o bolso de quem precisa comprar.  

      Não é justo, portanto, o preço de algo quando não há justiça neles. Parece óbvio, mas a não equivalência entre o que se ganha e o que se precisa gastar para viver é sempre problemática. Preços altos, com salários que não conseguem pagar as necessidades básicas, ou seja as compras necessárias para a subsistência torna o justificável, injusto. Não é justo, porque não cabe nas receitas de quem precisa comprar.

        Se ser justificável é diferente de ser justificado. Poderemos compreender  a mão dupla de se estipular um preço. Mas, então  quem deve ganhar mais: quem trabalha na terra, direto? Quem embala o alimento? Quem o vende? Quem o transporta? Quem guarda o seu dinheiro? Quem te dá formas de comprar, sem o dinheiro em papel?

Sim a intenção não é a de encontrar respostas, mas questionar o valor do trabalho de um professor hoje. Sabemos que alguns do poder executivo calculam a educação pública não pelo valor de quem produz, mas sim pela quantidade do produzido final. Neste caso, na educação, o produto final são os formados, os alunos que serão profissionais. Difícil essa conta.
E continuo me perguntando. Nesse mercado de valores quanto deve valer cada trabalho? Quando assisti ao filme “Banana is my business” também pensei sobre os valores. Sobre a importação, sobre as moedas. Imagino que para uma Carmem Miranda ter de lidar com o preço de uma cultura não deve ter sido fácil. O quanto os valores que uma outra cultura dava a ela e a cultura dela, a brasileira. E o quanto os brasileiros modificaram a cotação da personalidade ao ser "exportada.

      Exportar a sua cultura não deve ser fácil, imagino como é se descobrir um país exportador de bananas? E como é se descobrir um país importador de cultura? Penso também no valor de nossa cultura? Quanto vale importar? E quanto vale exportar nosso jeito de ver, de compreender, de pensar? Será que vale? Qual o preço seria justo para nosso conhecimento? Será que temos conhecimento de algo? Será que o que temos pode ser chamado de conhecimento? Será que é válido?  Quanto deve valer lá fora?