quinta-feira, 25 de maio de 2017

Todo trabalho não é social? parte 1 e 2

Todo trabalho não é social? Texto em 5  partes:

1.    Trabalho e crescimento = relatividade

Sou de uma geração em que a compreensão  linear do tempo obrigava a todos querem sempre mais, uma certa lei da evolução que dizia que temos que melhorar sempre. Tá, tudo bem, mas se o melhorar é sinônimo de avançar, Cabe a pergunta: o que é avançar? Conseguir um posto mais visado no mercado: isso é avançar ou melhorar? Alcançar um alto cargo equivale a avançar? Crescer na carreira significa sempre ocupar um cargo mais alto?

Essas perguntas são capazes de fazer uma professora ficar sem dormir, por dias. Pois que as crianças, em torno de 200 com quem uma professora hoje tem contato quase diário, saíram da escola pensando assim. E encontrarão na frente, ali adiante, um mercado. Um mercado de trabalho. 

Mas como é ou como deveria ser um mercado de trabalho?

    2.  Trabalho e mercado = lotação esgotada

O que é o mercado de trabalho? Primeiro faremos a pergunta: o que é mercado? Aquele lugar onde estão expostas as mercadorias de diversas marcas diferentes as quais você deverá (supostamente) escolher uma e comprar. Mas normalmente a sua escolha vai mais pelo preço, e não pelo valor. Dificilmente você escolhe pelos ingredientes ou pelos produtos utilizados para aquele resultado. Certo? Talvez isso esteja mudando.

Também como professora  faço parte de uma geração inflada, em que os gráficos apontavam sempre que teríamos problemas, que não haveria espaço e trabalho para todos no mercado. Qual seria a solução? A solução é a competição. Mas para competir num mercado, seremos escolhidos provavelmente não pelo valor, mas sim pelo preço. 

Assim também é a tal lei “natural” de Newton, a qual diz que precisamos eliminar os mais fracos, isso tomado como uma característica da nossa natureza. Lobato mostrou bem isso, é só ler “A reforma da natureza” e outros textos dele também,  vale a pena. 

Nesse cenário o conflito  mesmo não é apenas a forma com a qual  resolvemos o problema, o desemprego. Trata-se de como o termo trabalho é compreendido hoje é como está sendo modificado. Tudo bem, sabemos que assim como a língua é viva, o trabalho também se modifica. Se a língua se modifica no uso que fazemos dela, também o mesmo ocorre no trabalho.  

Mas o que é o trabalho? E qual é o uso que fazemos dele?

   Vejamos no outro post.


Todo trabalho não é social? Parte 3 e 4

     3. Mas o que é trabalho?

O trabalho com compreendemos tem a ver com esse tal mercado, um local onde suas habilidades e conhecimentos ficam a disposição para os empregadores usufruírem, e pagarem por isso.

Qualquer que seja o empregador, seja rico, classe média,  sempre estará atrás de algum serviço a ser prestado para servir a sociedade. Sim a redundância aqui foi proposital, “um serviço para servir” a alguém.

Portanto, o trabalho, seja ele qual for, é sempre social. Estará sempre a serviço de alguém.  Desafio a encontrar um trabalho que não tenha como característica servir alguém. Difícil. Eu não encontrei nenhum até hoje. Em qualquer profissão que pense, sempre estamos servindo, padaria, vestimentas, limpeza, ensino, tudo é sempre com o intuito de servir ou melhorar a vida do outro, seja o conhecido ou um desconhecido.

Vamos lá, se pensarmos num trabalho com a tecnologia, o TI – tecnologia da Informação, mesmo lidando com máquinas e linguagens de máquinas, sistemas e computadores o trabalho terá sempre como destino final facilitar a vida de alguém. A criação de serviços online, bancos, compras, tudo o que não vemos, tudo o que a máquina faz, tem como finalidade nós, o nosso bem estar. 

Se vivêssemos no tempo do escambo, da troca, poderia ser diferente. Mas será que não vivemos ainda neste tipo de escambo com o dinheiro? Talvez para isso sirva o dinheiro, para que possamos servir também a desconhecidos. Para que o escambo e a troca de serviços seja comum também entre estados diferentes, entre países até.   

Mas o que me pergunto é: porque todo o trabalho hoje em dia não é mais considerado como social?


  4.   Por que todo o trabalho hoje não é considerado mais social?

Por exemplo: o trabalho social agora é compreendido como penalidade nos julgamentos da justiça oficial. Uma pessoa, quando considerada culpada por cometer um crime, ela cumpre uma pena, recebe uma punição. Mas me questiono: como uma diminuição de pena pode equivaler a prestação de um serviço social? Ou seja, como um tempo de prisão, que equivale a um castigo, pode ser substituído por um trabalho social? Se pensarmos nos políticos, quando têm a sua pena reduzida em troca de trabalhos sociais a conta não fecha. Pois não é o trabalho dos políticos melhorar e criar serviços para o bem estar social, o bem da sociedade?

Sempre me intrigou o nome trabalho social, como se todo o trabalho não fosse já social. Até aí uma reflexão sobre o sentido que damos ao termo, normal. 
Mas, a questão principal é: Todo o trabalho não é social?
 Existe algum que não seja em prol do outro, para o bem do outro? Os presos estão privados também do direito ao trabalho, então o acesso ao mercado de trabalho é um valor para esta sociedade? Se é um valor, então estar empregado é importante, no emprego você fará trabalho em prol de um outro. Logo, você fará um trabalho que é em prol da sociedade, um trabalho social. Então qual é a relação com o trabalho que estabelecemos hoje, para que o resultado de uma ação contra a lei, como punição, seja um trabalho social? 





Todo trabalho não é social? parte 5

5. O valor do trabalho 

O que vemos é uma exacerbação do valor do trabalho, do “ter um trabalho”, e uma diminuição do valor do trabalho em si, ou do trabalho como uma função social. A lei da competição preconiza isso. Nas relações entre o produto e o capital, também é assim. Quanto mais se tem disponível, menos valor se pode cobrar. Até faz algum tipo de coerência, se  pensarmos em produtos, mas ao pensarmos  em pessoas, fica bastante absurdo.  Indico a leitura do livro de Carolina de Jesus, “O quarto de despejo”para essa reflexão,.

Outro tipo de trabalho é o trabalho escravo, o que ainda é visto aqui no Brasil. Consta o caso da uma fazenda no ano 2000, no Pará, que foi denunciada e julgada por uma Corte interamericana de Direitos Humanos. Assim como o trabalho escravo, outras pistas de como damos valor ao trabalho, ou de como valoramos o trabalho hoje. De como colocamos um valor quando damos um preço para os trabalhos de hoje. Indico também um  filme antigo, 1,99. Da época em que haviam lojas que cobravam o valor de R$1,99 para quase tudo que havia para vender. 

       Sem esgotar, sigo perguntando: quanto vale o seu trabalho? Ou quanto deveria valer? Seria um exercício pensar, não em termos financeiros. Se pensássemos nos valores de forma diferente do mercado de trabalho. Como você faria essa valoração? Como você etiquetaria cada uma das funções da sociedade, do que precisamos hoje para viver? Do que você precisa para viver, de que forma você  etiquetaria os preços destas funções da sociedade. 





quinta-feira, 11 de maio de 2017

PEDRO II: por uma Rés Pública 1

Por uma Res-pública
Por uma releitura da proclamação da república, ou da Res-pública em 2 capítulos, por enquanto.

1.       Pedro II   e a Republica    

O mundo, ou melhor, o Brasil está repleto de nomes de Ruas, parques ou locais públicos homenageando algum personagem histórico.  Os acontecimentos dos últimos meses, se vistos por esse lado, enfatizam uma outra perspectiva que me faz pensar além dos nomes históricos das instituições. Num desencadear de pensamentos faço uma releitura. Não uma releitura do descobrimento, como fizeram os modernistas, mas sim numa releitura da proclamação da República do Brasil.

A primeira pergunta que faço é: quando e porque o país deixou de ter o regime de monarquia federativa presidencialista e passou a República? Ao compreender que hoje o cargo político do presidente da república é para o “sempre” da vida, até a morte; penso em como temos semelhanças que continuam ocorrendo desde aquela época da independência. São monárquicos os salários e auxílios de presidentes e ex-presidentes recebidos até a morte de cada um deles. Essa seria uma pergunta que gira em torno da polêmica da aposentadoria, do fundo de pensão etc. Mas, por merecer um estudo mais aprofundado, não me arrisco a abordar mais sobre este assunto.

O segundo ponto é o que faz agora me questionar sobre Pedro II. Com o intuito de reler a proclamação da Republica, inicio as questões por como vemos Pedro II nos dias de hoje. Para se chegar até o mais longínquo do passado, inicio por duas situações do presente, nos muitos nomes de ruas, espaços e monumentos que me fazem retomar um pouco da história dessa personalidade estão: a escola do Rio de Janeiro e a estação de metrô em São Paulo que levam o mesmo nome.

O que posso dizer sobre a figura histórica,  para além do nome de Pedro II é pouco que sei sobre a história passada. Sei que foi imperador ainda em criança, fato que fez muitos questionarem na época sobre a maioridade. Sei que por ter passado grande parte de sua infância se preparando para o império e pelo que instituiu depois, sua reputação fora a de um erudito, um patrocinador do conhecimento. Sei que não conheceu a mãe, que faleceu pouco tempo depois do seu nascimento. Seu pai, ao sair do país e voltar a Portugal, deixou três pessoas encarregadas de tutorá-lo. E enquanto  não atingia a maioridade, o já coroado imperador, era governado - assim como o Brasil - por outra regência que tomava decisões políticas, e  sei também que isto resultou em brigas e rebeliões no país. 
Para que Dom Pedro II assumisse como imperador naquela época foi pensado e discutido sobre a diminuição da maioridade, coincidentemente esta discussão tem sido necessária nos dias de hoje, pretendendo conferir aos menores de idade um outro tipo de autoridade.
 Vemos o quanto à diminuição da maioridade penal é um assunto polêmico neste país, desde o tempo de Dom Pedro II. Quando olho hoje, os jovens alunos que ocuparam escolas em todo país em defesa do ensino público, penso que esta maioridade pode conceder uma autonomia desejável. Porém, a exemplo destes alunos, a idade com a qual Pedro II fora coroado foi, provavelmente, a mesma com a qual estes secundaristas iniciaram a luta em prol do ensino público, mas sei que a juventude não está toda representada nestes exemplos.
 Outras questões aparecem quando o assunto vem à tona, pois outros também são os adolescentes. Continuação no link abaixo: