Sobre o mundo de lá, visto daqui
Parece que não é só moda brasileiros saírem daqui em busca de novas
perspectivas de vida em outros países. “O último a sair apague a luz” ou a
habitual mudança efetiva de amigos e vizinhos pode ser vista de outra forma,
sem que seja “a grama do vizinho é mais bonita”, até porque às vezes é mesmo.
Tanto pode, que os teatros municipais da Europa são como os do Brasil, ou
o contrário. Como nasci aqui, para mim os daqui vieram primeiro, mas
na história do tempo não foi assim. Essa repetição de paisagens não ocorreu
apenas nas poesias do Arcadismo. Muito do que se vê de cidades brasileiras
hoje, são cópias do que, em algum momento, foram cidades da Europa.
Apesar da repetição de construções por aqui, com construções
de prédios e casas iguais, mas localizados em estados diferentes na atualidade, vemos
repetições de paisagens urbanas também
lá fora. Hoje em dia a repetição tem se tornado tão comum que se chegarmos em
algum lugar lá fora, EUA ou Europa veremos as mesmas lojas que temos aqui,
muitas. Starbucks McDonalds entre outras. É, parece que a nossa matéria prima ainda continua
sendo industrializada, e agora parece que também somos um bom mercado consumidor.
Quando viajei a primeira vez para fora do Brasil em 2014, foi com o intuito
de conhecer os países mais antigos e descobrir coisas novas, ou encontrar algo daquela
inspiração de tantos e todos teóricos já lidos e estudados por mim. Mas a
surpresa foi outra.
Quando cheguei na Europa, me deparei com tantas
lojas como as daqui que até desanimei. A moda era a mesma. O café aguado era o
mesmo de uma franquia estrangeira muito famosa por aqui. Ué? Mas o Brasil não era
a terra do café? Será? Se continuamos a exportar essa matéria devíamos ao menos
receber um bom produto por isso, principalmente pelos preços caros que pagamos
aqui, pensei eu ao beber esse café aguado de lá.
Sem dinheiro para fazer uma viajem de férias dos sonhos,
com o dinheiro contadinho fui fazendo a transposição de cada água que bebia em Euro,
para o nosso preço. Qual não foi a minha surpresa!! Me avisaram para que não fizesse
isso. Estarrecida fiquei. Surpresa fiquei por perceber que
pagávamos aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, um preço igual ao cobrado em euro!!!
Um refrigerante lá era o mesmo valor que pagacamos aqui num
restaurante. Comprar comida, para fazer em casa lá, era tão mais
barato lá quanto é aqui.
Uma brincadeira essa que faço agora, que sempre faço com os meus alunos, reescrever a Canção do Exílio, aí vai uma professora, brincando de aluna com seus próprios exercícios:
Outra
canção de Exílio
Exilada estou em minha casa
Não posso mais sair
Fui conhecer o estrangeiro
nos idos tempos de dinheiro
Mas voltei ligeiro
para o meu país
Saudade me deu de cá
mas eu bem queria voltar lá
Fui tocada pela imensa passarada
Teóricos que haviam por lá
Mas apesar de muito falada
A terra tão adorada não era essa daqui
Era a de lá
As moedas diferentes
Fui fazendo a cotação
dia sim e outro não
Nossa moeda não tem a mesma vida
Nossa vida de compras não tem o mesmo valor
Em cismar sozinha a noite que mais prazer
encontraria eu lá
Na minha terra o café é mais gostoso
Tem gosto, e vem de cá
Fui buscar lá os primórdios pensadores
De tudo que eu aprendi por cá
E encontrei, é verdade, muita vaidade
Tanto quanto vejo nos teóricos da nossa terra
Permita deus que eu volte
Quero ter outra impressão
Que eu possa ver outras paisagens
sem ser aquelas lojas que aqui já vi de
antemão
Exilada em minha casa
não posso sair mais
tudo está tão caro,
e o professor sem salário
teimando em sub-existir
Se a finança permitisse
que outros países eu visse
voltaria sempre pra cá
por enquanto viajo em pensamento
esperando pelo momento
do salário valer mais
Muitos são os que agora
procuram o país de fora
com o mar dividindo terras
Preferem o de lá
Eu continuo aqui
esperando melhorar
certa de que aqui é o meu lugar
esperando para a luz pagar
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